1.4.13

Das palmas da alma (sorri)

Eu não chorei. E sei lá o porquê. E sei menos ainda porque sempre venho aqui falar de choro e não de sorrisos.
Eu penso que não chorei porque acho que fui tratando de tratar de tanta coisa nesses meses, que o fim passou a não ter importância. O fim não aconteceu.
Início de uma série de entendimentos. De mim e para mim. De mim para mim. Do palco, da plateia, de estar cá ou lá, de estar fazendo ou assistindo. Do reconhecimento, da terapia em grupo, da terapia em casa, da paciência, da espera, da troca, da não troca, da troca de roupa à troca de personagem, dos sentimentos escondidos, de descobrir que não é "sem alegria não se chupa nem um picolé" e sim que "sem paixão não dá nem pra chupar um picolé". Dá na mesma, no fim.

Foram oito meses de curso. Paixão de verão subiu a serra e durou 4 estações, e ai como floresceu.
Entendi uma porção de coisas, explorei em mim, explorei no outro, explorei no chão e nas cortinas. Tive dúvidas, titubeei, tive a plena convicção no último dia.
Fiz várias vezes a mesma coisa como a primeira. Dancei, dancei, dancei. Cantei (mal), e vibrei por isso. Provoquei meu corpo, sofri sensações, me corrigi, imitei, me cobrei, errei, enfrentei a escuridão, trouxe a luz, fiz foto. Com câmera ou sem, estávamos sempre em ação. Enxerguei muita coisa com aquela luz me cegando.

Tentei focar, desfoquei.
Tentei brincar, me policiei.
Tentei falar, deu branco.

Aprendi o balaio. Aprendi a não levar tão a sério (mentira). Aprendi a levar um pouco a sério, e com respeito. Aprendi a gostar de pessoas das quais eu não procuraria num dia comum. Lembrei de como é sair num sábado a noite. Troquei meu bar predileto. Voltei à faculdade e me reconheci fazendo as palhaçadas, durante horas falando quilos de besteiras, sem censura. Me apaixonei por dois fins de semana. Lembrei de estar ali, aos 16, vendo e revendo aquele diretor fazer acontecer aquelas lendas todas. Vi cada molécula no cenário fazer aquilo virar o todo. Vi que entrar sozinho é legal, entrar com um batalhão é tudo. Vendi, vendi, vendi; vendi minha alma para tê-los todos comigo. Todos vendo a face da superação: rosada, um pouco sem jeito, driblando a tremedeira. Saí na coluna social falando de jogar junto, de não deixar ninguém na mão, de dar a mão ao outro na penumbra. Pensei, pensei e levei algumas máximas pra alguns amigos que estão por perto; e merecem.

Treinei feito uma louca. Os transeuntes de São Paulo e motoristas que o digam. Achei que fosse passar vergonhas, mas no final passei o que eu queria passar, pra quem estivesse vendo. Dormi, acordei com a perna trêmula pensando no "Tenham todos um bom espetáculo", fiz mantra: "eu vou subir naquele palco SIM. Doeu a barriga e eu fui.
Achei que não ia rolar, mas rolou. Rolou tudo no seu devido lugar, tim tim por tim tim. Da forma mais espontânea que deveria ser. Rolou bonito, rolaram sorrisos, rolaram caubois, noivas, dançarinos, guerras, revoltas, gritos de socorro, personagens autênticos e estranhos, contadores de histórias, esquetes, canções de doer a alma, filmes, putarias, sussurros, palhaços, bonecos, piedade, exercícios. Rolaram palmas.
Palmas que invadiram as veias e deixaram escorrer um sentimento muito bonito. Que eu não sei explicar. Que eu não quero explicar. Que eu quero - e quero muito - sentir de novo.