13.5.13

Dramas

Largada na esquina mais próxima
Chorando os insultos da vida
No saudoso bairro velho
De bar em bar
Sem um rosto conhecido
Acompanhada apenas
Da presença do abandono


Estou calma. Fique tranquilo.

1.4.13

Das palmas da alma (sorri)

Eu não chorei. E sei lá o porquê. E sei menos ainda porque sempre venho aqui falar de choro e não de sorrisos.
Eu penso que não chorei porque acho que fui tratando de tratar de tanta coisa nesses meses, que o fim passou a não ter importância. O fim não aconteceu.
Início de uma série de entendimentos. De mim e para mim. De mim para mim. Do palco, da plateia, de estar cá ou lá, de estar fazendo ou assistindo. Do reconhecimento, da terapia em grupo, da terapia em casa, da paciência, da espera, da troca, da não troca, da troca de roupa à troca de personagem, dos sentimentos escondidos, de descobrir que não é "sem alegria não se chupa nem um picolé" e sim que "sem paixão não dá nem pra chupar um picolé". Dá na mesma, no fim.

Foram oito meses de curso. Paixão de verão subiu a serra e durou 4 estações, e ai como floresceu.
Entendi uma porção de coisas, explorei em mim, explorei no outro, explorei no chão e nas cortinas. Tive dúvidas, titubeei, tive a plena convicção no último dia.
Fiz várias vezes a mesma coisa como a primeira. Dancei, dancei, dancei. Cantei (mal), e vibrei por isso. Provoquei meu corpo, sofri sensações, me corrigi, imitei, me cobrei, errei, enfrentei a escuridão, trouxe a luz, fiz foto. Com câmera ou sem, estávamos sempre em ação. Enxerguei muita coisa com aquela luz me cegando.

Tentei focar, desfoquei.
Tentei brincar, me policiei.
Tentei falar, deu branco.

Aprendi o balaio. Aprendi a não levar tão a sério (mentira). Aprendi a levar um pouco a sério, e com respeito. Aprendi a gostar de pessoas das quais eu não procuraria num dia comum. Lembrei de como é sair num sábado a noite. Troquei meu bar predileto. Voltei à faculdade e me reconheci fazendo as palhaçadas, durante horas falando quilos de besteiras, sem censura. Me apaixonei por dois fins de semana. Lembrei de estar ali, aos 16, vendo e revendo aquele diretor fazer acontecer aquelas lendas todas. Vi cada molécula no cenário fazer aquilo virar o todo. Vi que entrar sozinho é legal, entrar com um batalhão é tudo. Vendi, vendi, vendi; vendi minha alma para tê-los todos comigo. Todos vendo a face da superação: rosada, um pouco sem jeito, driblando a tremedeira. Saí na coluna social falando de jogar junto, de não deixar ninguém na mão, de dar a mão ao outro na penumbra. Pensei, pensei e levei algumas máximas pra alguns amigos que estão por perto; e merecem.

Treinei feito uma louca. Os transeuntes de São Paulo e motoristas que o digam. Achei que fosse passar vergonhas, mas no final passei o que eu queria passar, pra quem estivesse vendo. Dormi, acordei com a perna trêmula pensando no "Tenham todos um bom espetáculo", fiz mantra: "eu vou subir naquele palco SIM. Doeu a barriga e eu fui.
Achei que não ia rolar, mas rolou. Rolou tudo no seu devido lugar, tim tim por tim tim. Da forma mais espontânea que deveria ser. Rolou bonito, rolaram sorrisos, rolaram caubois, noivas, dançarinos, guerras, revoltas, gritos de socorro, personagens autênticos e estranhos, contadores de histórias, esquetes, canções de doer a alma, filmes, putarias, sussurros, palhaços, bonecos, piedade, exercícios. Rolaram palmas.
Palmas que invadiram as veias e deixaram escorrer um sentimento muito bonito. Que eu não sei explicar. Que eu não quero explicar. Que eu quero - e quero muito - sentir de novo.

25.2.13

Faça tudo dar errado. Mas não faça de propósito assim. Dá muito na cara.

22.2.13

Repetindo

- Escuta, Baby, quantas vezes mais vou precisar falar? Não acha que passou da idade? É assim mesmo, você conta e fala verdades. Soam como um furacão devastando tudo. Mas devasta a ti. Agora, calm down, volte a viver o jogo, e terá momentos de diversão. Tenha intensidades. Não seja. Intensidade ficou velho demais pros dias de hoje.

5.2.13

deuses

(...) E onde estavam os deuses do desamor? Dormindo em horário de trabalho? Como deixaram com que isso acontecesse, intoxicando-me? Por que ninguém me protegeu? Eu estava vulnerável demais a quaisquer gentilezas? Onde deixamos o bom-senso? Escondido? (...)

Sangro sem sequer ter nenhuma ferida.

9.1.13

Aquele cara ali.

E então o cara me mandou todos os contos. Todos. Um a um. À meia noite em ponto de cada noite eu lia com voz rouca e alta tentando fazer pausas dramáticas; só imaginando o pesar daquelas histórias todas. Caras e bocas, dava mais um trago, soltava um sorriso, uma chacota. No fim de tudo eu não tinha reação. Ele apenas me via, ouvia. A reação só viria quando viesse outra noite, outra madrugada, outro conto.

E então o cara me mandou todos os sonhos. Não, os contos. Os contos que ele não contava enquanto estava acordado, e podia falar. Abrir a boca pra falar muito ele sempre gostou pouco. Gostava de abrir a boca apenas na hora certa - o grande sorriso. Ele não gostava de escrever contos do passado. Ou não. Ele não gostava de se sentir no passado e então escrevia contos. Melhor, escrevia contos pra achar que estava escrevendo um novo presente. Acho que era isso. Sempre fiquei meio confusa.

Quando ele resolveu escrever o último deles, que contava a história de um viajante que adorava apenas viajar por sua terra natal, eu assustei. Foi naquela noite que eu entendi tudo. Os contos que ele escrevia faziam-no mergulhar em mar - e como o mergulhar de uma baleia, grande, gorda, linda - reaparecer em dois segundos no mundo em que ele abandonara. Ele viajava, ao som de balanços. Ele viajava numa grande caravela pintada de asfalto. Viajava por um mar azul, límpido, morto. Porque aquele não era o mar que ele queria; e porque talvez ele nem gostasse muito do mar. O mar só servia pra que ele chegasse no chão cinza e quente, de dias nublados e chuviscos. Esse cenário era fundo falso para a maioria dos contos.

E então o cara não me mandou mais nada, porque eu havia descoberto. E quando ele percebeu, resolveu partir. Fez a mala, largou pra trás os personagens, os contos, os sonhos. E me deixou aqui, falando sozinha, esperando dar meia noite, pensando nos anos.

Não se pode mais sonhar, quiçá contar.
Ele não vai voltar, esse cara.

6.1.13

sei não

- Era assim que você previa a sua morte?
- Não.
- Você vai se matar?
- Talvez.
- Aos poucos está bom para você?
- Não sei.
- E por que está fazendo desta maneira?
- Sei lá.
- Você não vê que está exagerando?
- Vejo.
- E não vai parar enquanto é tempo?
- Tempo?
- Tempo pra pensar que não precisa ser assim.
- ...
- Vem cá, tem certeza do que está fazendo?
- Quase.
- A taquicardia já começou?
- Não por isso.
- Então por que?
- Ah...!
- Por que?
- Você nunca se apaixonou?
- Talvez.
- E foi assim tranquilo, vivendo lentamente?
- Não.
- E acha que deveria ser mais devagar?
- Não sei.
- Conseguiu evitar seus exageros? Foi de verdade?
- Sei lá.
- Você vê o quanto isso é confuso?
- Vejo.
- E o tempo não te fez aprender nada sobre isso?
- Tempo?
- Tempo, que faz a gente aprender, lembrar, entender, esquecer...
- ...
- Vem cá, sua vida tem objetivos?
- Quase.
- E você não se preocupa em sentir algo mais?
- Não por isso.
- Então por que?
- Uh...!
- Era assim que você previa a sua vida?
- Pode ser.
e se desse pra parar de respirar?
e se desse pra não mais dormir?
e se desse pra não mais comer?
e se desse?
e se desse vontade de não fazer nada?
e se desse de dar
e se desse aquela vontade de só pensar?
e se desse do café acabar?
e se desse vontade de não pensar?
e se desse vontade de apagar tudo?

e se desse pra isso ser de verdade?

e se desse???
ou se desse?
se desce?
e se desse pra mente parar de funcionar?
e se desse pra ver onde tudo isso vai dar?
pena que não dá. desce mais uma então. quem sabe se dá?

Trago

Me traga seus lábios, e com ele me diga algo que eu não queira ouvir.
Diga. Pra que isso passe logo, por favor, diga.