Papai apareceu em casa, assim de surpresa, com uma pizza na mão e um chaveiro divertido pendurado no bolso. Quando cheguei, ele conversava sério com meu irmão – como sempre acontece – mas ao me ver abriu um sorriso, que foi saindo, saindo e ficou do tamanho do mundo, minutos depois.
Ele já não manja muita coisa lá em casa, esqueceu onde fica a água e não sabe qual dos controles remotos usar.
Pusemo-nos a conversar na sala, assistindo um programa qualquer em frente à TV nova; sobre assuntos de sempre: carreira, dinheiro, vida. Até falei um pouquinho de mamãe, fiz umas piadinhas um tanto quanto bobas, falei de um filme, ele de Globo; e foi papo sincero.
Eu sinto falta do meu papa, que anda barrigudo, mas todo charmoso com sua bermuda e tênis novos, de meninão. Cabelos enrolados como os meus, porém escuros. Olhar forte e grande gosto por palavras.
É... As coisas não são as mesmas, o conto de fadas dura, mas não para sempre e papai está começando a acreditar que eu cresci. Tá começando tanto que já impõe mil responsabilidades em meu teto. E está certo. Eu ouço tudo o que ele fala, com cautela, e assimilo. Inda bem.
Estávamos cansados, com sono, então o coloquei para dormir; no meu quarto. Ajeitei a cama, cobri com cobertor. Deitei um pouco ao seu lado, dei um abraço – o mais forte do mundo - e fui dormir também, na sala.
Hoje acordei, sozinha no meu mundo, dei tchau para mim mesma e fui-me.
Afinal, o dia é duro. E amanhã ele não estará mais aqui pra me segurar.
Saudade.